quarta-feira, 21 de março de 2012

Histórias de quem viu nascer a União de Leiria

A conversa com o REGIÃO DE LEIRIA aconteceu um dia antes da saída de Manuel Cajuda do comando técnico da União de Leiria (ver página ao lado). No entanto, a situação fragilizada do clube surgiu na conversa.

As bancadas estão vazias e só o sistema de rega do relvado traz movimento ao estádio de Leiria. José Familiar e Orlando Rousseau estão sentados na bancada. Recordam os anos em que jogaram à bola pela União de Leiria. Integraram a primeira equipa, em 1966/67.
“A encosta estava cheia, tínhamos jogos com cinco mil pessoas a assistir”, conta José Familiar, hoje com 67 anos, que durante 13 anos representou a União de Leiria. O lado esquerdo sempre foi controlado por ele. Primeiro como extremo, depois como defesa. Chegou a ser o melhor marcador da equipa com nove golos numa época.
Contudo, foi Rousseau que marcou o primeiro golo da história da União de Leiria. O particular frente ao Atlético Marinhense obrigava-o a jogar contra a sua antiga equipa. Primeiro, marcou um autogolo. Depois remediou com um golo ao adversário. O jogo acabou empatado a duas bolas.
Os anos que se seguiram foram de glória. “A União sobe à III divisão nacional e depois à II. Houve uma grande festa. As pessoas concentraram-se na Praça [Rodrigues Lobo] e houve um grande convívio. Assaram um porco e tudo”, lembra Familiar.
“Eram outros tempos”, explica Rousseau, que depois de deixar de jogar, em 1978/79, enveredou pela carreira de treinador e passou por mais de uma dezena de clubes e seleções distritais.

Salários em atraso


“Estar na I divisão é um milagre. Se não fosse o João Bartolomeu [presidente da SAD], quer queiram, quer não, o clube já tinha acabado há muito tempo. Apesar de tudo, é ele que consegue manter o clube”, afirma Rousseau.
E salários em atraso não é um problema de agora. “Uma vez, fomos jogar às Caldas e vencemos a Taça. Durante os festejos, a taça caiu e ficou toda torta. Não se aguentava em pé. Como não recebíamos há quatro meses, as pessoas pensavam que a taça vinha torcida porque os jogadores a tinham danificado. Lembras-te disso?”, pergunta Rousseau a Familiar que solta uma gargalhada e não o deixa sem resposta. Do saco retira um recibo de vencimento de 1968/69. Recebeu dez contos (50 euros, na moeda atual), pagos por três vezes.
Mas se existem situações idênticas no clube 46 anos depois, outras são bem diferentes. “Treinávamos no pelado quatro vezes por semana e uma no relvado, se jogássemos em casa, para não o estragar. As bolas eram de cabedal e pesadas. Num canto, raramente conseguíamos colocar a bola na área e, se chovesse, pior ainda”, refere Familiar. Também as camisolas, com a chuva, se transformavam. “Ficavam pesadas e cheias de terra. Parecíamos uns autênticos guerreiros”, acrescenta, ostentado com orgulho a camisola, com o nº 11, que usou na primeira época ao serviço da União de Leiria.

Marina Guerra (Textos) e Joaquim Dâmaso (Fotos)
Região de Leiria

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